13 August 2007

Uma menina pequenina



A menina dos pensamentos entranha-se na vida,
sorri tudo,
mesmo quando não sorri.

A menina dos pensamentos,
observa: olha, olha tudo
e vê, eu sei que vê.
E sei que ela sabe que eu sei.

A menina dos pensamentos sorri.
Depois revolta-se com o todo injusto que vê no mundo.
E depois acolhe o bom com o doce olhar que inventou.

A menina dos pensamentos tem um olhar só seu
que só ela sabe usar.
E eu sei. Porque já o vi.
E sei que ela sabe que eu sei.


(Agosto de 2006)

07 August 2007

1.
O que eles não sabem é que do outro lado há nuvens e fogo,
ribeiras de dor absorvente trazidas de outro lugar.

Ninguém especificou se era fronteira simples
ou cinquenta quilos de vida.
Mas cantavam e eu digo haver mais.

Se eu fosse muralha saltava para que os homens passassem.

Até que o sino partisse.
Até à ganância-cadáver por asfixia total.

Não quiseram que soubessem.
Grito, não os deixaram saber.


2.
Chove.
O coração continental debruça-se sobre a perversão das nuvens lacrimais.
Nada mais meu,
nada mais interior às coordenadas do vácuo.
É um funil,
cada onda que bate leva consigo um pedaço de vida,
cem anos de terra.
Mesmo que não chovesse.

(Agosto de 2004)