02 December 2009

Olá Sílvio,
diz olá aos meninos, diz olá aos que cresceram demasiado e aos que só agora começam a crescer, diz olá a todos de quem esqueceste o nome, às palavras desnecessárias do passado, diz olá aos desagradáveis, diz-lhes como é tão fácil ser também desagradável, essa forma de vestir dá-me arrepios na anca seu filho da mãe, diz olá aos morcegos, um dia inteiro em directo na internet, diz olá aos morcegos que estão de pernas para o ar porque não sabem que estão a ser filmados,

diz,

olá, que de alguma maneira estás de volta, sacudidos os fantasmas, longas batalhas de silêncio, um bem-estar demasiado bem-estar para querer escrever, diz olá-verde quando deverias dizer olá-vermelho ao semáforo avariado, diz olá-desculpa ao idoso que dorme na rua e que nunca foste capaz de amparar, diz olá a todos eu voltei a escrever porque penso que assim é que é, diz olá à expressão assim que é e espera que te responda, diz

olá

aos matulões que adormecem na biblioteca a ver paisagens orientais, diz olá a ti mesmo, ao espelho da tua borbulha, ao espelho distorcido da tua nudez, diz olá aos meses de espera vã sem uma única linha para no fim dizeres isto, olá-por-editar, para no fim dizeres olá a todas as coisas bonitas que querias escrever no mundo,

diz olá ao mundo que ainda não quebraste e a tudo o que hás-de escrever.

Sílvio