10 November 2008

Herberto Hugo-Sílvio Helder (Correspondência)

Amigo,
vamos ler um livro? Os dois. Em voz alta. Sigur ou God Speed You como cenário para almas tão uma. Um poema para cada um. Vamos? Se me perguntas quando, digo-te já. Imploro-te. «Tocamo-nos (...) como as árvores de uma floresta no interior da terra». Ler tudo com as mãos cheias. Com pequenas alucinações nas mãos. Vamos ser a Grande Árvore a embriagar-se? Na palavras. Palavras. Do livro em voz alta já - «para poder[mos] com isto e não morrer[mos] de espanto».

Amigo,
um livro em flor? Os dois. Em voz nossa com paredes altas. Rós ou Black Emperor! como a casa em cima da árvore. Um na voz do outro. Vamos?

Já. Implora-me. Com precipícios vertiginosos nos bolsos, vontade de saltar: dentro das palavras. Uma cada um. Desejoa-as todas, bato-lhes com a caneta até que apenas sobrem as puras. Risco-as. As árvores florescem nos ramos-em-flor. «O espanto recamado de mundos caminha desalmadamente». Caem-lhes as folhas, despem-se. A ventania do desejo derruba-as, arremessa-as para ainda mais longe. As flores. Ou árvores. Ou: palavras.

Imploro-lhes. Até que não entardeçam três: Quero-te. Já. Aqui. Vamos?

11 de Setembro de 2004.

3 comments:

vieira calado said...

Um interessante documento!

Cumprimentos

Carlos Vinagre said...

Parabéns pelo blogue.

Anonymous said...

um passeio neste jardim